26 de dezembro de 2010

Ponto final

Respiração sufocada, ar que implora pra sair dos pulmões. Fugir da sina, do olhar de criança, do passado. Transformar a infância no futuro. Ser cuidado, ter cuidado, admitir culpa. É mãe dos seus pais, quer atenção, atrair os olhares. Guarda em suas páginas coloridas o que viveu, sabe que vai sobrar sua adolescência não vivida, o amor apenas sonhado. Deseja viver hoje o colorido de um passado em preto e branco, mas tem em todas as suas fotos a mesma pessoa. Causou mudança, não mudou, construiu cérebros, veias e corações e vai deixar estes pedaços. Caminha cansada com estrutura tão formada que já não se suporta. Ignora a maturidade que passou a vida tentando descobrir, carrega seus fatos. A tinta da sua caneta já se faz gasta e falha. Procura por si mas não sabe quem é, se esconde! Vive entre si e sua criança. De doce em doce, vive a delícias e morre amargura. Quer brincar de boneca e de casinha, finalmente acredita no grande amor que não vai ter. Tem a energia guardada de anos e seu corpo já não permite utilizá-la. Trabalho artesanal da vida, parte por parte, detalhe por detalhe, em nome de fôlego para mais algumas gargalhadas, algumas palavras, alguns afetos. Ponto final. 

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