26 de dezembro de 2010

Distração

Um instante basta. Uma pequena distração e havia sumido. Voou, nem vi. Esperei o segundo seguinte, momento das lágrimas, da perda. Ora, mas se tem asas, não tem dono e, surpreendentemente, não é perda! Invadiram os sorrisos e olhares azuis. Criaram-se asas, saí do lugar, cheguei mais perto do sol. Descobri o poder de ir no banco de trás, na segurança daquelas mãos, ri sem saber o trajeto pra chegar aonde nem sei. Não é o destino que importa, mas o caminho. Caminho lento, livre das coisas cortantes, tecla por tecla em ritmo leve. Dias regados, cheios de mim e só de mim. Tornaram-se comuns os relógios iguais, o mundo a girar nos meus dias, só meus. Quero assim, peço assim, tenho assim, ponho pensamentos pra voarem pro lado de lá e vou descobrir até onde  são capazes de  alcançar. 

Ponto final

Respiração sufocada, ar que implora pra sair dos pulmões. Fugir da sina, do olhar de criança, do passado. Transformar a infância no futuro. Ser cuidado, ter cuidado, admitir culpa. É mãe dos seus pais, quer atenção, atrair os olhares. Guarda em suas páginas coloridas o que viveu, sabe que vai sobrar sua adolescência não vivida, o amor apenas sonhado. Deseja viver hoje o colorido de um passado em preto e branco, mas tem em todas as suas fotos a mesma pessoa. Causou mudança, não mudou, construiu cérebros, veias e corações e vai deixar estes pedaços. Caminha cansada com estrutura tão formada que já não se suporta. Ignora a maturidade que passou a vida tentando descobrir, carrega seus fatos. A tinta da sua caneta já se faz gasta e falha. Procura por si mas não sabe quem é, se esconde! Vive entre si e sua criança. De doce em doce, vive a delícias e morre amargura. Quer brincar de boneca e de casinha, finalmente acredita no grande amor que não vai ter. Tem a energia guardada de anos e seu corpo já não permite utilizá-la. Trabalho artesanal da vida, parte por parte, detalhe por detalhe, em nome de fôlego para mais algumas gargalhadas, algumas palavras, alguns afetos. Ponto final. 

1 de dezembro de 2010

Nem ligo

Abre gaveta, fecha gaveta, abre bolso, fecha bolso, abre armário, fecha armário. Procura, procura, procura.
Começou a procurar uma coisa, vai é achar outra que perdeu há muuito tempo! E eu quero lá saber do que perdi outro dia? Isso é mais importante! Maas, o que é mesmo que eu tô procurando? Enlouqueceu, foi? Procurando o que não existe! Pra quê? Vai criar, vai! AAAAHN, preguicinha! Eu ainda vou ter que descobrir o que é pra depoois inventar! Que cheirinho de pão doce quentinho! Vou ali na padaria, já chego.