18 de novembro de 2009

De olhos fechados

As cores mudam, se arrumam, rumam pra outros caminhos, e você não pode participar de tudo isso. Só de lá pra cá, e não de cá pra lá. Fica faltando aquela mãozinha de apoio, aquele cuidado de quem está lidando com um objeto de cristal. Falta aquele ritmo único, aquela voz que se perdeu. O som. Dá vontade de tentar colher todo o som que já saiu da sua voz e guardá-lo numa caixinha. Mas ele se dissipou. As ondas se foram e até o teu respirar está disperso por ai. As tuas texturas, teu cabelo, tua pele, já não existem mais. E não há no mundo nada parecido. Era único, não volta mais.
Apenas quando fecho os olhos.
Tudo o que fizeste me dá a capacidade de ter dentro de mim, de forma clara, cada detalhe. Não do que você foi, mas ainda mais importante: de quem você foi PARA MIM. Cada jeitinho de sentar ou abrir a porta de casa, cada angulozinho do olhar ou a forma como tocava as minhas mãos.
Me enganei, você ainda existe.
Ainda posso sentir tudo isso e, mais ainda, ainda posso estar com você. Posso, simplesmente porque necessito, porque isso é essencial em minha vida. Estou sempre de olhos bem abertos pra tudo o que você faz, todos os exemplos que dá, e ouço tudo atentamente. Escuto tudo o que diz para que assim, já que não pode mais agir e continuar sendo um alguém, eu possa ser um pouco de você e você nunca deixe de estar entre nós.


Tem que ter uma sabedoria muito louca pra julgar quais as horas TÃO certas para todas as coisas, viu, Deus?


9 de novembro de 2009

Realidade.

Fiquei um tempo olhando a caixa, tentando trazer à memória todos os sonhos e lembranças que pudessem me levar a lembrar como abrí-la. Finalmente consegui. Há muito tempo não tinha uma sensação como aquela, era um medo e, ao mesmo tempo, uma vontade imensa de procurar aquela flor. Entre os tantos papeizinhos e moedinhas estrangeiras, lá estava ela, intacta. As mesmas folhas secas e, de forma estranha, a mesma vida, tão indefesa! Ainda dava para notar a sua cor, embora estivesse desbotada, lembrei do cheiro e de como era bela. Tirei da caixa e ela logo percebeu o sol, a luminosidade pareceu tocá-la sutilmente, como se a estivesse acordando com cuidado, para não ferí-la. Em minhas mãos, tudo começou a se transformar: novamente, a maciez inigualável das pétalas, cores em tons de azul e roxo e vida, muita vida!
Ela me pareceu dialogar com o sol e deixar todos os medos de lado por tê-lo ali, aah se eles falassem! Observei a conversa por alguns minutos e apesar de sem palavras, tudo ficou claro. Adormeci lentamente, até que o sonho finalmente começou.